O zumbido é uma sensação sonora que geralmente não está relacionada com uma fonte externa de estimulação. Essa característica faz com que o zumbido seja definido por muitos como um tipo de “ilusão auditiva”. A persistência dessa condição pode causar impactos significativos na qualidade de vida dos pacientes, causando desde estresse (pela percepção contínua do zumbido), até problemas do sono. Dada a grande variedade de possíveis causas para essa condição, muitos profissionais estão adotando novas abordagens terapêuticas, como a neuroplasticidade.
No artigo de hoje falaremos mais sobre o papel da neuroplasticidade no tratamento do zumbido, explicando mais a fundo esse conceito e apontando como ele pode ajudar a melhorar a qualidade de vida de pacientes com zumbido no ouvido, confira!
O que é neuroplasticidade?
A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de reorganizar e adaptar suas conexões neurais em resposta às mais diversas experiências e estímulos do ambiente.
Quando falamos sobre zumbido e processamento auditivo, a neuroplasticidade se refere à capacidade do cérebro de se ajustar e otimizar a interpretação de informações sonoras. Aplicada no processamento auditivo, a neuroplasticidade sugere que o cérebro pode ser treinado e remodelado para melhorar a percepção auditiva e superar dificuldades relacionadas ao processamento auditivo. Esses desafios incluem perdas auditivas ou mesmo dificuldades de processamento devido a algum fator psicológico ou neural.
Mas como ocorre esse fenômeno? A plasticidade neural do sistema auditivo pode ocorrer de três formas diferentes. São elas:
1 – Primária: A plasticidade primária geralmente ocorre através de uma perda auditiva, que induz a reorganização dos mapas frequenciais, onde as frequências que ainda podem ser ouvidas possuem um número maior de neurônios.
2 – Secundária: A plasticidade secundária é aquela que decorre da reintrodução do estímulo auditivo, geralmente através de um aparelho auditivo ou implante coclear.
3 – Condicionada: A plasticidade condicionada é realizada através de treinamento auditivo, estimulando as capacidades auditivas do paciente.
É importante lembrar que, diferentemente do que se pensava alguns anos atrás, o Sistema Nervoso Central retém sua plasticidade ao decorrer dos anos, o que significa que adultos e idosos também possuem essa capacidade. Essa descoberta tem levado diversos terapeutas a tentar diferentes abordagens em pacientes de idades variadas a fim de buscar formas de trazer maior qualidade de vida.
Qual a relação entre neuroplasticidade e zumbido?
Por falar em distúrbios no processamento auditivo, uma das condições que mais pode afetar a qualidade de vida do paciente é o zumbido. Nesse caso, achados da literatura sugerem que o zumbido pode ser uma consequência negativa da plasticidade no sistema nervoso central após uma agressão periférica, seja ela um acidente ou uma perda gradual de audição, como aquelas decorrentes do envelhecimento natural do aparelho auditivo.
Os avanços na compreensão do sistema nervoso e auditivo apontam o cérebro como o ponto final do processo de audição. Isso acontece porque, para que uma mensagem linguística significativa seja construída, muitas áreas do cérebro precisam reagir ativamente. Neste caso, as perdas auditivas não afetam somente os ouvidos, como também o próprio cérebro do paciente.
Essas perdas auditivas causam uma plasticidade negativa no sistema nervoso central, que é fortemente associada ao surgimento e persistência do zumbido.
Como a neuroplasticidade pode ajudar no tratamento do zumbido?
Segundo o conceito de plasticidade cerebral, é possível fortalecer ou enfraquecer sinapses neurais de acordo com a repetição e a prática. permite que as sinapses neurais se fortaleçam ou se enfraqueçam com base na repetição e na prática. Sendo assim, o conceito de neuroplasticidade sugere que o treinamento das habilidades auditivas pode reverter parcialmente as mudanças causadas pela neuroplasticidade negativa e, consequentemente, melhorar o zumbido.
Nesse sentido, os profissionais podem utilizar abordagens terapêuticas específicas para direcionar e otimizar a neuroplasticidade auditiva. Isso inclui a implementação de exercícios auditivos direcionados, atividades de discriminação sonora e estratégias de treinamento auditivo que visam fortalecer as vias neurais envolvidas no processamento auditivo.
Ou seja, embora a neuroplasticidade natural do paciente possa ser uma causadora do zumbido, é possível utilizá-la, porém aplicada de forma diferente, para reverter o processo que levou à percepção do zumbido!
De forma prática, o uso do treinamento auditivo pode reduzir o incômodo causado pelo zumbido, através do fortalecimento das sinapses da via auditiva, assim como da sincronia de disparo dos neurônios envolvidos no processamento auditivo. A melhoria gerada por esse tipo de tratamento pode ser observada através da avaliação comportamental, que mede as habilidades auditivas de discriminação de fala, frequência e habilidades temporais.
Neste caso, a estimulação auditiva e comportamental (como o TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental) utilizam a neuroplasticidade para fazer uma ressignificação, reduzindo gradualmente os incômodos causados pelo zumbido.
Tendo em vista a possibilidade de trazer melhorias significativas para a qualidade de vida dos pacientes, aprender sobre terapias do zumbido e como utilizar a neuroplasticidade para ressignificar estímulos auditivos capacita o profissional que atua com pacientes que sofrem com o zumbido a oferecer tratamentos mais eficazes e atualizados, promovendo melhores resultados aos pacientes.
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