O Dia Mundial do Sono, celebrado na terceira sexta-feira de março, nos convida a refletir sobre a qualidade do nosso descanso e como ele impacta diversas funções do corpo. Para quem lida com a percepção do zumbido, essa relação é ainda mais relevante. A privação de sono não afeta apenas o bem-estar geral, mas pode intensificar sintomas auditivos, tornando o zumbido mais incômodo e persistente. Estudos apontam que pacientes com zumbido frequentemente relatam uma piora dos sintomas após noites mal dormidas, reforçando a necessidade de investigar essa conexão com mais profundidade.
Como a privação de sono afeta a percepção do zumbido?
O sono é essencial para a regulação do sistema nervoso. Quando não dormimos bem, processos como a neuroplasticidade e o controle da excitabilidade neural são comprometidos. Estudos demonstram que distúrbios de sono elevam a atividade neuronal espontânea nas vias auditivas, podendo intensificar a percepção do zumbido. Além disso, há um aumento na desinibição do tronco encefálico e do tálamo, estruturas diretamente ligadas à modulação dos estímulos sonoros. Isso significa que indivíduos privados de sono podem ter uma redução da capacidade de filtrar estímulos irrelevantes, tornando o zumbido mais perceptível e incômodo.
Mecanismos de interação entre privação de sono e zumbido
1. Alterações na regulação cortical e neuroplasticidade
A privação de sono pode intensificar a atividade excitatória no córtex auditivo, reduzindo a capacidade do cérebro de filtrar ruídos irrelevantes, como o próprio zumbido. Essa hiperatividade neuronal está associada a uma menor eficiência das redes inibitórias que controlam a excitabilidade excessiva das vias auditivas centrais. Além disso, o sono profundo desempenha um papel crucial na plasticidade sináptica e na reorganização das conexões neurais. Sem um descanso adequado, o sistema nervoso perde parte da sua capacidade de adaptação, tornando o zumbido mais persistente.
2. Impacto no processamento emocional e cognitivo
Pessoas privadas de sono apresentam maior ativação da amígdala e menor controle inibitório do córtex pré-frontal, aumentando a resposta emocional ao zumbido. Isso explica por que pacientes frequentemente relatam maior incômodo quando estão cansados ou sob estresse. Além disso, a privação de sono está associada a déficits na memória operacional e na atenção, tornando mais difícil para os pacientes se distraírem do zumbido.
3. Influência da melatonina na percepção do zumbido
A privação de sono afeta diretamente a liberação de melatonina, hormônio essencial para a regulação dos ritmos circadianos e da atividade neural. Como a melatonina possui propriedades neuroprotetoras e atua na modulação das vias auditivas, sua redução pode intensificar a percepção do zumbido, contribuindo para a sua cronificação. A deficiência desse hormônio pode amplificar o desequilíbrio entre mecanismos excitatórios e inibitórios nas vias auditivas centrais, aumentando a percepção sonora indesejada.
4. Impacto nos processos inflamatórios e oxidativos
Estudos recentes sugerem que a privação de sono pode aumentar os processos inflamatórios sistêmicos e elevar o estresse oxidativo. Essas condições podem agravar alterações no ouvido interno e no sistema nervoso central, que já estão envolvidas na gênese do zumbido. O aumento de citocinas inflamatórias pode afetar a homeostase da cóclea e comprometer os mecanismos de adaptação neural ao zumbido.
Como aplicar esse conhecimento no atendimento clínico?
Para otorrinolaringologistas e outros profissionais da saúde, reconhecer a interação entre sono e zumbido é essencial para um manejo eficaz. Pacientes com queixa de zumbido devem ser questionados sobre seus hábitos de sono, e abordagens terapêuticas podem incluir estratégias para melhorar a qualidade do descanso. Terapias cognitivas comportamentais para insônia (TCC-I), técnicas de higiene do sono e a avaliação de possíveis comorbidades como apneia obstrutiva do sono devem ser incorporadas ao protocolo de tratamento.
Estratégias terapêuticas para melhorar o sono em pacientes com zumbido
A orientação de estratégias como controle de estímulos luminosos à noite, redução do consumo de cafeína e álcool e a prática de atividades relaxantes antes de dormir podem auxiliar pacientes a melhorar a qualidade do sono. Além disso, alguns estudos sugerem que o uso de suplementação de melatonina pode ser um coadjuvante útil no tratamento do zumbido, especialmente quando associado a distúrbios do sono.
Abordagens multidisciplinares no tratamento do zumbido
Uma abordagem integrada pode trazer melhores resultados no tratamento do zumbido em pacientes com distúrbios do sono. Além do acompanhamento com otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos, terapias complementares como fisioterapia para alívio de tensões musculares associadas ao zumbido e suporte psicológico para controle do impacto emocional são estratégias eficazes. Compreender que o zumbido é uma condição multifatorial permite uma abordagem mais ampla e eficiente, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Onde aprofundar esse conhecimento?
Uma forma de aprofundar esses conhecimentos é através do Zumbido Summit, o mais esperado evento de imersão em atualização científica sobre zumbido. Com base nas mais recentes evidências, o evento capacita profissionais para entender melhor as múltiplas interações entre fatores fisiológicos e percepção do zumbido. Além disso, cursos especializados, como o UpDAYte e mentorias clínicas oferecidas pela ISBO Cursos, ajudam profissionais a implementar abordagens inovadoras na prática clínica.
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